Tal como Paulo VI há 50 anos, embora em contextos diferentes, o Papa Francisco desloca-se de 12 a 13 de maio à Cova da Iria, como «peregrino entre peregrinos», desta vez para assinalar os 100 anos das Aparições de Fátima.
Paulo VI, peregrino de FátimaHá 50 anos, em ambiente de tensão com as autoridades portuguesas, por causa da sua participação no Congresso Eucarístico de Bombaím, na Índia, em dezembro de 1964, três anos depois da retomada de Goa, Damão e Diu pela União Indiana, Paulo VI manifestara desejo de se deslocar a Fátima para marcar o primeiro cinquentenário das Aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos. Esta visita acabaria por se realizar, a convite dos bispos portugueses, unicamente à Cova da Iria, como forma de evitar que fosse considerada uma legitimação do regime português, em guerra contra os movimentos pela independência das colónias. O Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, chegara a pensar proibir a visita, não emitindo os necessários vistos, mas acabou por aceitar a viagem do Pontífice enquanto peregrino de Fátima, segundo relato de Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros. Devido a este contexto, o avião que trouxe Paulo VI a Fátima não aterrou em Lisboa, mas a 40 quilómetros de Fátima, na Base Aérea de Monte Real, onde o Papa recebeu os cumprimentos das várias autoridades civis e religiosas (incluindo o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, e o Presidente do Conselho, Oliveira Salazar). Paulo VI ficou alojado na diocese de Leiria (então assim denominada), deslocando-se depois em carro descoberto, o Rolls-Royce da Presidência da República, até Fátima, por entre milhares de peregrinos.
Francisco, peregrino entre os peregrinosÉ numa conjuntura totalmente diferente, mas com motivações idênticas, que Francisco viaja até Fátima para, com os portugueses, rezar junto da Imagem da Virgem Maria, num dos maiores santuários marianos do mundo. Tal como aconteceu há 50 anos, o avião que transporta o Papa aterrará na Base Aérea de Monte Real e Francisco fará depois o percurso em helicóptero até à Cova da Iria.
Ligação a Fátima desde início do pontificado A visita efetua-se a convite dos bispos portugueses e do Presidente da República, mas, como há 50 anos, cinge-se apenas a Fátima, sinal da devoção mariana do Santo Padre. Eleito Papa a 13 de março de 2013, a ligação de Francisco a Nossa Senhora de Fátima, enquanto Sumo Pontífice, iniciou-se oficialmente dois meses depois, quando os bispos portugueses, a seu pedido, entregam o seu pontificado a Nossa Senhora de Fátima, durante as celebrações do 13 de maio, na Cova da Iria. Exemplo da sua devoção mariana foi também o pedido expresso de que a Imagem de Nossa Senhora que se venera na Capelinha das Aparições fosse a Roma para o encerramento da Jornada Mariana, promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização no âmbito da celebração do Ano da Fé. Em 2015, o Papa Francisco associou-se à celebração do 13 de maio, ao evocar em Roma alguns dos conteúdos centrais das aparições aos três videntes, que tiveram lugar na Cova da Iria entre maio e outubro de 1917. Durante a catequese do dia 13 de maio de 2015, o Papa pediu ao leitor português presente na Praça de São Pedro, em Roma, que rezasse em voz alta uma ave-maria, assinalando o dia em que a Igreja recorda Nossa Senhora de Fátima: «Peço ao meu irmão português, neste dia de Nossa Senhora de Fátima, que reze com todos em português».
Tengo ganas de ir a Fátima Francisco manifestou a intenção de estar em Fátima na peregrinação internacional aniversária de maio, vontade que foi transmitida aos bispos portugueses em setembro de 2015, no início da visita ad limina: «tengo ganas de ir a Fátima» (quero ir a Fátima). A visita ad limina, versão abreviada de ad limina Apostolorum – aos túmulos dos Apóstolos, em Roma –, consiste na obrigação de os bispos diocesanos de um país se deslocarem a Roma, de 5 em 5 anos, para apresentarem um relatório sobre a situação pastoral nas suas dioceses e refletirem com o Papa, ouvindo os seus conselhos e recomendações. Na audiência geral de 11 de maio de 2016, o Papa Francisco associou-se à celebração do 13 de maio na Cova da Iria e recordou a devoção de João Paulo II por Nossa Senhora de Fátima: «Nesta aparição, Maria convida-nos mais uma vez à oração, à penitência e à conversão», disse o Pontífice, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro. A conta oficial do Papa Francisco na rede social Instagram, no mesmo dia, incluiu uma imagem de Nossa Senhora de Fátima com a legenda: «Mãe, nós Te agradecemos pela Tua fé; renovamos a nossa entrega a Ti». Francisco será o quarto Papa a visitar Portugal, depois de Paulo VI (13 de maio de 1967), João Paulo II (12 a 15 de maio de 1982, 10 a 13 de maio de 1991, 12 e 13 de maio de 2000) e Bento XVI (11 a 14 de maio de 2010). |